22 fevereiro 2014

Azul




Não há mal em colocar muito azul nas fotos.
É a cor do céu.
O problema é captá-lo como queremos.




08 fevereiro 2014

História de uma foto banal


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À primeira vista, parece haver pouca coisa na foto que mereça a pena comentar. O enquadramento da foto até nem estará mal de todo (apesar de resultar também de um corte efectuado na imagem original), atendendo a que a captura foi feita a partir de um veículo em andamento sobre um caminho não pavimentado e cheio de ressaltos (embora isso não seja muito visível, porque os ressaltos que fazem efeito são aqueles que estão por debaixo das rodas…).

Para quem esteja habituado a olhar fotos de paisagens e tenha uns conhecimentos mínimos de geologia, fica fácil identificar a natureza calcária da crista ou escarpa que se vê ao fundo, natureza essa que é ainda comprovada pela observação do corte no terreno situado no lado direito.

O talude do lado esquerdo é que parece demasiado regular, se comparado com o que vemos (ou esperaríamos ver) numa paisagem calcária, geralmente bastante acidentada e potencialmente afectada pelo fenómeno de karstificação, com grutas e algares (aqui pouco presente devido à escassa pluviosidade e baixo grau de humidade da região).

Parece, e é, um aterro. Trata-se de uma lixeira. Um "aterro sanitário", local onde se deposita (ou depositava) o lixo por nós produzido, cobrindo-o em seguida com uma consistente camada de terra, impedindo a propagação de cheiros e a disseminação de detritos pela área em redor, em especial os "malditos" sacos de plástico, sempre propensos a viajarem à boleia do mínimo sopro de vento. E num local como este, onde as "brisas" costumam soprar,  no mínimo, a várias dezenas de quilómetros por hora, o efeito é mau de mais para que possa ser descurado. 

Nas proximidades deste lugar (precisamente mais à frente, no lugar aonde leva este caminho) há uma fabriqueta de adubos, concretamente de adubos orgânicos. A principal matéria-prima de que se alimenta essa fábrica é precisamente o lixo acumulado neste e noutros aterros, após um certo período de "amadurecimento". Quando a matéria orgânica misturada com detritos se converte em húmus, chegam as pás escavadoras, que levam tudo para a fábrica, que está logo ali. A primeira operação consiste em separar aquilo que não pode ser convertido em adubo. Essa separação é feita num crivos metálicos de grande dimensão, que retêm todos os objectos maiores, posteriormente reencaminhados para locais onde possam ser sujeitos a outro tipo de selecção, tendo em vista a reciclagem. Desde as pedras que também fazem parte do recobrimento do aterro, até sapatos velhos, passando por ferros de engomar, torradeiras, televisores... de tudo ali aparece… sem esquecer os omnipresentes plásticos!

Quanto ao húmus, a sua conversão em adubo é relativamente simples. São-lhe acrescentados certos componentes químicos de acordo com as especificações do tipo de adubo a que se destinam e pode ser logo expedido a granel, quer seja para outros locais de embalagem, quer seja para os próprios utilizadores finais.

Certos tipos de adubo são sujeitos a "peletização",  são comprimidos em pequenas pastilhas. Essa compressão tem como finalidade permitir  uma maior facilidade de doseamento e espalhamento mecânico na terra e também a manutenção das suas propriedades por um período mais longo, ao não se dissolver de imediato.

Voltando à foto: o "fotógrafo" dirigia-se à fábrica, para aí recolher umas vinte e cinco toneladas desse adubo, acondicionado em "big bags" (sacos grandes) de 600kg cada um (semi-granel). O lugar situa-se nas traseiras de uma antiga vila mineira aragonesa (ainda por lá funciona uma central térmica a carvão extraído localmente). O adubo viria para qualquer lugar situado algures entre o Algarve e o Minho ou Trás-os-Montes.


A fábrica de adubo.